sábado, 11 de dezembro de 2010

Por que a escola deve ser interdisciplinar?


"A proposta de currículo interdisciplinar justifica-se a partir de razões históricas, filosóficas, socio-políticas e ideológicas, acrescidas das razões psicopedagógicas.
Historicamente, temos de considerar que vivemos hoje a era da informática, com suas contradições, seus paradoxos. Como já afirmava Heráclito, o filósofo grego pré-socrático, "no mundo tudo flui, tudo se transforma, pois a essência da vida é a mutabilidade, e não a permanência". Assim, aquela escola, que era boa para o momento da revolução industrial, já não atende às necessidades do homem do final do século XX.
Nossa era é a da pós-modernidade (ou neomodernidade, como querem alguns autores), em que à lógica formal, clássica, normativa e maniqueísta (bivalente), impõe-se a lógica dialética, fundamentada na noção de contradição, dialógica.
Paralelamente, a luta pela igualdade de direitos, pela supremacia da liberdade, pelo resgate da democracia e a revisão de conceitos de poder deram novo sentido à noção de cidadania, de coletividade, de valores cívicos.
Dentre as razões que temos para buscar uma transformação curricular, passa também uma razão política muito forte: hoje vivemos uma democracia, e queremos formar pessoas criativas, questionadoras, críticas, comprometidas com as mudanças e não com a reprodução de modelos.
Questões histórico-filosóficas e sociopolítica-ideológicas vêm exigindo, há muito tempo, uma total revisão na instituição escolar.
Mais recentemente, com a divulgação dos trabalhos teóricos sobre a psicologia genética e sua aplicação ao campo da pedagogia, tornou-se imperiosa essa necessidade de mudanças na estrutura escolar, visando, sobretudo, ao resgate da inteireza do ser humano e da unidade do conhecimento.
A rapidez das mudanças em todos os setores da sociedade atual (científico, cultural, tecnológico ou político-econômico), o acúmulo de conhecimentos, as novas exigências do mercado de trabalho, sobretudo no campo da pesquisa, da gerência e da produção, têm provocado uma revisão didático-pedagógica do processo de educação escolar.
Surge, assim, uma nova concepção de ensino e de currículo, baseada na interdependência entre os diversos campos de conhecimento, superando-se o modelo fragmentado e compartimentado de estrutura curricular fundamentada no isolamento dos conteúdos.
Temos de considerar ainda as razões psicopedagógicas que nos levam a propor um currículo interdisciplinar, e que estão relacionadas com os conhecimentos já adquiridos sobre o funcionamento do cérebro humano e os processos de conhecimento e de aprendizagem. Os avanços significativos da Psicologia Genética nos permitem hoje conceituar, com Piaget, inteligência como a capacidade de estabelecer relações; confrontar, com Vygotski, o desenvolvimento de conceitos espontâneos e científicos; admitir com Gardner, a idéia de inteligência múltipla, o que implica uma série de competências a serem desenvolvidas pela escola: competência lingüística, lógico-matemática, espacial, cinestésica, musical, pictórica, intrapessoal e interpessoal.
Ora, todos esses avanços exigem um repensar do currículo escolar, baseado na rede de relações, eliminando-se os "redutos disciplinares" em prol de uma proposta interdisciplinar. Um currículo escolar atualizado não pode ignorar o modo de funcionamento da mente humana, as necessidades da aprendizagem e as novas tecnologias informáticas diretamente associadas à concepção de inteligência . É preciso, hoje, pensar o conhecimento (e o currículo) como uma ampla rede de significações, e a escola como lugar não apenas de transmissão do saber, mas também de sua construção coletiva.
Eis, pois, a grande razão para termos um currículo interdisciplinar: é preciso resgatar a inteireza do ser e do saber, e o trabalho em parceria."

 Artigo: Interdisciplinaridade Um novo paradigma curricular
 Rosa Maria Calaes de Andrade

  Podemos perceber, que Rosa Maria defende muito bem a importância de se trabalhar a interdisciplinaridade no ambiente escolar. O contexto histórico e os argumentos apontados nos deixa capaz de compreender claramente sua explicação. A partir disso, lanço dois questionamentos:
1º - Pensando que existe um costume historicamente comprovado, que a escola sempre acolheu a postura disciplinar, é algo realmente possível unir o conceito disciplinar ao conceito interdisciplinar em sala de aula nos dias de hoje?
2º - Essa postura interdisciplinar para ter eficácia em sua aplicação em sala de aula, é suficiente sendo apenas por parte do professor ou o trabalho deve existir a partir de uma parceria? Justifique

2 comentários:

  1. Bem, como este é um espaço de troca de experiências e construção de conhecimento, lá vou eu me arriscar!rsss...
    Em primeiro lugar, penso que as disciplinas são necessárias e quando falamos em interdisciplinaridade, não estamos falando em abondonar as disciplinas, mas sim de fazer com que estas tenham uma ligação,ou melhor, que não sejam trabalhadas de forma isoladas, como normalmente acontece. Desse modo, é preciso que haja uma constante comunicação entre os professores, para que assim um possa completar o outro.
    Acredito sim, que isso seja possível, no entanto,demanda comprometimento, bem como dará muito trabalho. Aí, entra outra questão: a valorização do professor, ou seja, a remuneração, já que todo esse trabalho exige dedicação.
    com relação ao segundo questionamento, o professor jamais conseguirá fazer um trabalho desse sozinho, antes, precisará que professor, pais, alunos, diretor e funcionários em geral estejam unidos no mesmo próposito. Caso isso não aconteça, o professor deve fazer sua parte, quem sabe as pessoas não se sensibilizam?! Não podemos desistir! Afinal,apenas um balde de água não apaga a chama, mas retarda o tempo do incêndio!

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  2. O prefixo inter é oriundo do latim inter e significa 'no interior de dois; entre; no espaço de'. Sendo assim, interdisciplinar, significa:

    · que estabelece relações entre duas ou mais disciplinas ou ramos de conhecimento;
    · que é comum a duas ou mais disciplinas.

    Então, não há como ser interdisciplinar sozinho, é imprescindível a parceria.

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